sábado, 6 de julho de 2013

Projeto Volta Atlântico - Etapa 15 - Ilhas São Jorge, Terceira e Graciosa

São nove as ilhas do arquipélago Açores. Agrupadas em 3 grupos. Entre as extremas uma distância de 336 milhas, ou seja, 620 km. Isto significa que, para passarmos apenas 30 dias aqui, temos que fazer algumas escolhas. A cada ilha vamos percebendo que há particularidades de paisagem e de cultura, que há sempre surpresa ao desvendá-la e, ao mesmo tempo, vamos sentindo um pesar por estar deixando ilhas para trás, sabendo que, provavelmente nunca mais teremos a oportunidade de visitá-las.

Ao deixarmos Horta, algumas canoas baleeiras treinavam na baía. Foram barcos utilizados na caça a baleia. Atividade encerrada no início da década de 80. Muito elegantes e rápidas, são preservadas, e há um calendário de regatas com estas canoas que promovem sua manutenção, como forte elemento de uma cultura de homens do mar.

Partimos de Horta as 13:10 para navegarmos 21 milhas. Vento suave de través. O piloto funcionou, mas foi um teste sem esforço. São Jorge é uma ilha linear (8 km de largura e 56 de comprimento), mas bem montanhosa. O pico tem quase 1000 mts e chega no mar com escarpas.

A única marina está na vila Velas, para onde fomos.

O parceiro Sobá, que saiu 1 hora antes de nós, está ancorado do lado de fora dos molhes.

Entramos no espaço da marina e conseguimos uma vaga tranquila. O Sobá não entrou porque não havia vaga para o tamanho dele (46 pés). Nessas horas, e na hora de pagar, ser pequeno tem suas vantagens.

A marina fica entre o molhe e uma escarpa de pedra. Totalmente abrigada de vento e ondulação. No paredão, centenas de Cagarros (ave marinha) tem seus ninhos e a gritaria é grande, principalmente a noite.

Demos uma saída rápida no centrinho da vila, para fazer um reconhecimento. Muito aconchegante. Acho que vamos gostar.

O que uma Ferrari faz num lugar tão pequeno, não tenho a menor ideia, mas estava lá, e parecia recém saída da fábrica. Deve cruzar a ilha em segundos.

Em contraste com a Ferrari, um grupo de pessoas com trajes típicos e violas estava na calçada. Fomos perguntar o que ia acontecer. Era o Grupo Etnográfico da Beira e ia se apresentar num restaurante, num encontro de seguradoras. Ao mesmo tempo chegava um cara com uma camiseta de um Congresso de Folclore de Florianópolis, estava também farejando o que ia rolar. Que coincidência! Encontrar um manezinho da ilha (que mora na Trindade) por aqui. É o Marcelo Calazans Ribeiro, que trabalha no CIASC e é envolvido com o folclore açoriano.
Bom, acabamos convidados a entrar e ver a apresentação do grupo. É impressionante como a cultura local se parece com a do nosso litoral catarinense.
Para encerrar a noite, fomos com o Marcelo, tomar cerveja no bar-restaurante Açor. O dono, Rogério, um brasileiro que está por aqui já a 7 sete anos. Eta mundo pequeno.

Na manhã seguinte saímos para a vila. Uma graça. Pouco mais de 3000 habitantes, mas com calçadão, praça com coreto e petit-pavet nas calçadas, além das ruas sem fiação (rede elétrica subterrânea).

A vila termina no balneário, uma piscina natural com uma orla cimentada, sobre as lavas.
Como pano de fundo o Pico (ilha vizinha), com seus 2.300 metros de altura.

Na sequência da praia, a lava invade o mar e vai desenhando a ilha. O contraste da rocha negra e o mar azul torna o bruto suave. Como é fácil ser poeta, olhando para uma natureza tão exuberante.

O Sobá arrumou uma vaga e entrou na marina, e com isto o grupo de brasileiros cresce. Eu e o César, do Firulete, O Ricardo e a Maitê com os filhos Diego e Rodrigo. O gerente da marina, o boa-praça José Manoel, trouxe sua mulher e sogra, que são de Goiânia. E tudo isto, porque estamos numa ilha com menos de 10 mil habitantes.

As marinas dos Açores são excelentes e baratas, mas esta esnobou. Sanitários todo em inox.

Apesar de a ilha ser só morro, alugamos duas bicicletas por 24 horas (Trek praticamente novas) e saímos com lanche para o dia.

De saída já subimos uns 300 metros.

Passamos por uma queijaria. São Jorge é famosa pela qualidade dos seus queijos.

Entramos, degustamos e não resistimos. Levamos meia peça para o barco, só que a peça pesa 11 kg. O queijo, curado por 7 meses, lembra o nosso queijo serrano.
O problema de levar aquele peso na mochila por todo o dia foi logo resolvido. A funcionária que nos atendeu ficou de levar, quando fosse embora, e entregaria para o Rogério, do restaurante Açor, e lá pegaríamos a noite. Esta é uma das vantagens de lugar pequeno.

Seguimos então pedalando. A paisagem: pastagens, gado e muros de taipa. Estradas asfaltadas de primeiro mundo.

Passamos por várias pequenas freguesias. Suas igrejas, datadas do século XVII ou XVIII.

Chegamos a atingir mais de 600 metros de altitude. O mar e o céu se fundiam, tornando a linha do horizonte imperceptível.

Na borda oposta da ilha começamos uma descida radical, rumo as Fajãs, que são os terrenos planos resultantes da erosão, muito férteis, onde sempre se formam pequenas freguesias.

Aqui vemos duas delas, a Fajã dos Cubres  e a Fajã da Caldeira de Santo Cristo.

Descemos até a dos Cubres por uma estrada asfaltada que serpenteia o morro

A partir dali, o acesso para a Caldeira de Santo Cristo é por uma estrada-trilha onde só passam quadriciclos, e é desta forma que se faz todo o abastecimento.

Na chegada, a estradinha é espremida entre a escarpa e a lagoa.

Chegamos suados e empoeirados e caímos na lagoa de água salobra.

O lugar é de uma paz infinita.

Dois veleiros, buscando esta paz, ancoraram num remanso das águas, embora não seja um abrigo muito confiável, no caso de uma viração no tempo.

As poucas casas estão muito bem integradas ao cenário.

Descobri que numa das casas funcionava um restaurante e fui lá tomar uma cerveja. Adivinhem o que encontrei. Uma brasileira (Adriana, de São Paulo), casada com um açoriano e há 9 anos mora na ilha de Faial.

O César também conheceu um casal que andava de mochila. O Ricardo e a Mariana são de Aveiro - Portugal, e nos convidaram para ir conhecer o que se chama de "a Veneza de Portugal". Ficamos bem tentados.

Na volta, saí na frente do César, pois meu rendimento morro acima é menor. Acontece que o pessoal do Sobá passou por mim de carro na serrinha, e me rebocou até quase em cima. Parei no mirante e tirei um bom cochilo, até o César aparecer. Ficou impressionado com a minha performance na subida. Nem contei do reboque.

Voltamos por um outro caminho, tentando reduzir as subidas, mas não aliviou muito, chegamos a quase 600 metros outra vez.

Na chegada, passamos sobre a vila Velas, ...

Demos um zoom na marina, ...

e no Firulete. Chegamos exaustos. Foram mais de 60 km pedalados no dia.

Na manhã seguinte, apesar da vontade de ficar mais, partimos de São Jorge, contornando a ilha e fazendo rumo para a Terceira, ...

que depois de algumas horas, já aparecia na nossa proa.

Já na aproximação de Angra do Heroísmo, nosso destino, ancoramos numa enseada anterior, pois para entrar no porto já estaria escuro.

Amanhecemos nesta enseada, guardados pelo forte (ruína) sobre o morro.

Levantamos ferro e contornamos o Monte Brasil, um promontório anexo a ilha, provavelmente de formação mais recente.

Passamos agora pelo outro lado do Forte e ...

chegamos defronte a Angra.

Para entrar no porto, contornamos uma fragata da Marinha Portuguesa, e ...

já dentro dos molhes, a área da marina, muito bem abrigada.
Recebemos uma vaga bem próxima da terra, que nos pareceu boa.

Com o barco devidamente atracado ao píer flutuante, ...

saímos para uma incursão pela área da marina, que mantém o padrão das demais. Moderna e eficiente.

Ao lado há uma praia, e, como é domingo, muita gente na areia. Na água poucos, pois é gelada.

Na marina, um painel de azulejos contém um poema de Fernando Pessoa, meu poeta preferido.

A tarde saímos pelas ruas da cidade. Angra do Heroísmo tem pouco mais de 30 mil habitantes. Em 1980 sofreu um sismo que destruiu 25% dos prédios, que foram reconstruídos, mantendo fidelidade à arquitetura de época. Em 1983 foi considerada Patrimônio da Humanidade, pela Unesco.

Na rua principal a Brasil Joalheria.

A cidade é muito bonita, limpa, também tem as redes todas subterrâneas, e sem poluição visual, apesar de estar toda enfeitada para a Festa Sanjoanina. Tradicional festa, alusiva a São João, que todos os anos abre o verão dos terceirenses. Esta festa dura de domingo a domingo e nossa chegada coincidiu com a abertura.

Visitei uma igreja dos jesuítas, muito bonita internamente, mas externamente simples e sem torres. Nem parecendo igreja.

Ao lado, o Jardim Público. Todo fechado, somente com alguns portões de acesso.

Muito bonito e bem cuidado.

Do Jardim, sai um caminho que sobe uma ladeira enorme, ...

e dá num mirante com vista para a cidade e as duas baías, separadas pelo Monte Brasil.
Neste mirante há um monumento a visita de D. Pedro IV.

 No fim da tarde as ruas e praças começaram a se encher de gente, ...

e as sacadas a exporem colchas. Na maioria caprichosas e lindas colchas de retalhos.

Exatamente na hora marcada iniciaram-se os desfiles. Marchas de São João. Grupos de casais, em trajes que representavam um tema, desfilavam, dançando e fazendo coreografias de grupo, por várias ruas centrais da cidade.

Cada grupo, com aproximadamente 80 figurantes, representa uma entidade ou agremiação, e vinha sempre acompanhado de uma orquestra filarmônica.

Ao todo foram 20 grupos. Todos com sua banda, tocando sua música-tema. Como no nosso carnaval.

O desfile encerrava na Praça Velha. Os músicos iam formando pequenos grupos e caminhando pelas ruas adjacentes, onde o povo seguia a dançar.

 A festa seguiu noite adentro, na maior empolgação. Via-se gente de todas as idades. Crianças, com os pais, inclusive.
Lá pelas 2 da manhã, numa das ruas, acenderam fogueiras a cada 30 metros, e as pessoas pulavam estas fogueiras.
Depois das 3 da manhã, assaram sardinhas em grelhas enormes e serviram ao público com pão e outros quitutes. Tudo de graça.
Só lá pelas 4 horas da madrugada é que começou a reduzir o movimento e as pessoas a se recolher.

No dia seguinte, 2ª feira, dia de São João Batista, e feriado.
Fomos à missa, na igreja da Sé, matriz. Uma igreja simples e muito bonita. Sua construção iniciou em 1520. Sofreu com o cismo de 80, teve um incêndio em 83, mas foi recuperada. Tem mais de 20 sinos, de vários tamanhos e sons. Toca na horas cheias e a cada quarto de hora. Um som maravilhoso.

A missa foi acompanhada pelo órgão de tubos, que me lembrou muito a infância.

Outro detalhe interessante: Um prédio, talvez em restauro, recebeu fotos de pessoas, das mais variadas épocas.

O César viu um grupo de brasileiras conversando e se apresentou. Uma delas era gaúcha, casada com um açoriano chamado Genuíno Madruga, e que estava ali. Era pescador, embarcou num veleiro (Hemingway) e entre 2000 e 2002 deu uma volta ao mundo solo. Não satisfeito, entre 2007 e 2009 deu outra volta solo, desta vês passando pelo Cabo Horn. Virou ídolo aqui e em Portugal. Tem um belo livro escrito, relatando as duas voltas.

Na 2ª a tarde, fecharam algumas ruas com caminhões atravessados, que se encheu de gente, ...

soltaram 6 touros. É o que chamam "Touro na Praça". Os mais corajosos provocam os touros e é aquela correria. Volta e meia um quebra e cara e é pego pelo touro.

A ilha tem uma forte tradição de brincar com o touro. Tem até duas estátuas de touros, na rua e em tamanho natural.

No outro dia foi a "Boi na Corda". Soltam o touro e um grupo de 6 homens o segue, segurando-o numa corda atada ao seu pescoço. Tentam, pela corda direcionar o touro e impedir algum lance de maior perigo, mas, quando o touro dispara, pouco podem fazer.

Utilizaram 4 touros e uma verdadeira multidão esteve presente.

A noite, outro desfile. Desta vez 12 grupos etnográficos representam, cada um, um mês e o que lhe é de marcante na cultura da ilha, desde os primórdios.

Alguns grupos passam oferendo algo para o público. Pães, bolachas, queijo, vinho. Especialidades da ilha. Tudo relacionado com a época da produção e o mês que representam.

E há meses de festas, rezas, e por aí vai.
Ficamos muito impressionados com o tamanho e a qualidade das apresentações, com o capricho deste povo, e com o orgulho que manifestam por suas tradições. Chega a emocionar, principalmente porque foi o berço da cultura que temos no litoral catarinense. Muito do que vivenciamos na nossa história, aqui está a explicação.

Hoje, tiramos o dia para conhecer o Monte Brasil. No caminho, esta foto mostra bem a praia, a marina e o cais do porto, ...

além de alguns exemplos da arquitetura de alguns séculos, ...

e um enorme parque infantil, com brinquedos muito criativos e bem construídos.

O Monte Brasil é todo fortificado, e esta fortificação ainda hoje é base militar de um Grupo de Infantaria.

No alto do Monte, um monumento registra a descoberta da ilha, que aconteceu em 1432, ...

e fica num mirante que avista a cidade. Um painel de azulejos retrata a mesma perspectiva da cidade e ...

situa alguns prédios de destaque histórico.

A cidade conta também com um frota de pequenos carros elétricos, para locação. Aqui, um se abastece, em uma tomada estendida de dentro de uma casa.

São produzidos pela Renaut, e tem um design bem futurista.

Transportam 2 pessoas, uma na frente e outra atrás, e quando em funcionamento não fazem barulho algum.

O desfile de hoje são de orquestras filarmônicas. São 23, todas da ilha, e algumas foram criadas na segunda metade de 1800.

Estas orquestras são uma forte tradição na ilha e muito atuantes. Muito bem equipadas e afinadas. Fico imaginando como pode uma população tão reduzida comportar 23 orquestras. Tem uma freguesia que possui três orquestras, ou seja, quase todo mundo toca. É impressionante.

 O César, arruma um skate emprestado e anda na Praça da Alfândega, ali, na popa do Firulete.

Conhecemos um armazém a moda antiga, parecendo um daqueles "secos e molhados" que vende de tudo. Ó proprietário, o Sr. Basílio, muito simpático, fazia relações públicas. Sua loja foi fundada em 1850 e a mobília parecia original. Seu avô fazia transporte marítimo num grande veleiro de 3 mastros. Este é o octante que usava nas viagens entre Europa e Açores. Equipamento para calcular a posição a partir da declinação do sol e estrelas.

O desfile do dia foi de atletas e desportistas da ilha. O astro foi um jóquei que recém conquistou um troféu nacional.

Ele apeou para receber uma homenagem, mas fiquei achando que seu cavalo também merecia ser homenageado, tal sua imponência e elegância.

Mas muitos outros cavalos e cavaleiros impressionavam.

A noite houve a apresentação de um grupo de Florianópolis que compõe e canta cantigas de tradição açoriana. Nilo e Luiz Teixeira...

acompanhados de Ricardo Caminha e Francisco do Valle Pereira, e esposas. Todos envolvidos na divulgação da tradição açoriana em Santa Catarina.

O Caminha, durante 15 anos esteve participando de um programa, numa rádio portuguesa, que abordava a imigração açoriana pelo mundo, e via internet, interagia com causos dos manés. Esta participação virou livro,...

que ele deu ao César, autografando sobre o touro, que colaborou imóvel.

Num antigo mosteiro franciscano hoje funciona o MAG-Museu de Angra do Heroísmo. Dividido em vários setores, guarda a história da ilha. Aqui "Homens e Pedras", com exemplos de acessórios utilizados na construção.


Em anexo, a igreja do mosteiro, No mezanino dois belos painéis de azulejo português.

Uma das sessões do museu era de resgates de naufrágios e há muitos nestas ilhas, pois sempre foram ponto de passagem entre a Europa e o novo mundo.

Astrolábios, bússolas, sextantes, octantes, e uma infinidade de utensílios de bordo.

 A história dos últimos 600 anos está aqui muito bem contada.

Aqui, o que sobrou de uma Santa Ceia, esculpida em madeira. Muito rica em detalhes.

 Instrumentos de reprodução musical, precursores dos CDs.

 Vários modelos de liteiras e charretes. Meio de transporte por terra, ...

e canoas, meio de transporte por água.

Para as ilhas, como estão isoladas do mundo, e entre si, a aviação sempre despertou interesse. Estão documentados vários registros de vôos, e a passagem do balão Zeppelin pela ilha.

O arsenal bélico utilizado na 1ª e 2ª guerra.

A noite, o desfile foi das Ganaderias e seu toiros (não é erro não, é toiro e não touro), ...


e toureiros, cavaleiros e forqueadores. É forte a tradição de touradas na ilha, e as ganaderias são as criadoras de touro. Existem 8 e há forte concorrência sobre a estirpe dos seus touros.

Depois de cada desfile, o povo toma as ruas e praças e a festa é grande. Uma festa muito familiar. Não se viu um tumulto sequer, e nem policiais.

A programação da festa era intensa. Três palcos nas cidade tinham eventos todas as noites.
Aqui, o encontro de duas orquestras. Uma da ilha e outra da Califórnia-USA. Para mim, que me criei adorando as bandas, nas festas de igreja, foi um show.
No palco da Praça da Alfandega, que fica a uns 70 metros do Firulete, rola os shows mais jovens. Entram na madrugada e o som faz vibrar o barco. Com isto temos dormido toda a semana lá pelas 4 da manhã. Um choque com a nossa vidinha de mar e natureza, mas entramos no ritmo da festa.

No sábado a tarde, um desfile para crianças, e...

nós fomos atrás de duas bikes para alugar. Encontramos mas não muito boas. O César pegou as ferramentas no barco e foi fazer uns ajustes.

No domingo, saímos para um tour pela ilha. Passamos por algumas ganaderias, com touros a pastar como vacas leiteiras.
O César teve problema com a bike e voltou. Segui então sozinho.

Fiz uma trilha na Lagoa do Negro,...

passei pelas Furnas do Enxofre, onde sai uma fumaça quente por fendas no solo, demonstrando que a atividade vulcânica está logo ali,...

visitei o Algar do Carvão, uma gruta enorme formada por um antigo vulcão. A entrada é pela sua boca.

Visitei ainda a Gruta do Natal, uma galeria no subsolo, formada também pelas lavas.

O César aproveitou para conhecer a Praça de Toiros, que é a arena onde ocorrem as touradas.

Pretendíamos ir daqui, direto para Portugal, mas com pena de deixar os Açores, resolvemos dar uma chegadinha na Graciosa. Uma ilha pequena que fica a 40 milhas. Saímos as 14 horas, deixando a festiva Angra e novamente contornando o Monte Brasil.

A menos de 1 hora de navegação, tendo ainda a Terceira pelo través, ...

a catraca da carretilha de pesca zuniu, anunciando peixe. Tínhamos colocado a linha n'água fazia 10 minutos.

Depois de tantos peixes que fugiram, o César foi muito cauteloso no embarcar o peixe que lutou bravamente. Um atum de uns 7 kg. Rango garantido para uns 3 dias.

No fim da tarde o sol se pôs por traz da nossa ilha. Íamos chegar a noite.

Fiquei com receio de entrar no porto a noite e ancoramos defronte a freguesia da Praia. No amanhecer fui acordado por uns pescadores que estavam saindo para a pesca. Nos alertaram sobre umas rochas e convidaram para entrar no porto.

Entramos. Não há marina, só um porto de pesca, mas com ótimas instalações. É impressionante a infraestrutura marítima deles. Dá uma inveja danada. Nós com tanto mar e não temos nada disso.
Como as vagas são todas dos barcos de pesca, ficamos a contra bordo de um veleiro de bandeira francesa.

O César foi dar uma investigada na vila,...

subiu numa colina e fotografou o porto.

Eu fiquei no barco, pois precisava achar onde atracar em definitivo. Foi então que o Sr. Benjamin, pescador com vários barcos, nos cedeu uma ótima vaga, de um dos seus barcos, que chegou mais tarde com um belo Cherne, de quase 40 kg.
A atividade pesqueira é forte, e pelo jeito, a ilha muito piscosa. Os peixes daqui embarcam para Portugal e em 24 horas estão no destino de consumo, resfriados apenas. Há espécies que rendem aos pescadores até 15 euros o quilo, e são vendidas na Europa por 60. A pesca é com linha e anzóis e ocorrem a 400, 500 metros de profundidade.

No fim da tarde fui no Café Ilhéu para acessar a internet. É de uma família que produz as famosas "Queijadas da Graciosa". Já tínhamos comido em Angra, só que aqui as comemos "da hora". São muito gostosas, além de terem sido de graça, pois nos deram algumas para experimentar, e nos convidaram para conhecer a fábrica. Esses açorianos, realmente são ótimos anfitriões.

Conhecemos no porto o Ricardo. Um cara que trabalha com turismo e aluga bicicletas. Ficou de nos trazer, na manhã seguinte duas bicicletas. E eram 0 km. Tinham saído da caixa. Saímos para uma volta a ilha.

Passamos por Santa Cruz, que é o Conselho da ilha (sede do município), ...

No centro de informações turísticas pegamos mais algumas dicas para conhecer.

No moderno Museu Etnográfico, não entramos, pois nossa agenda para o dia seria apertada, e de muita andança.

Mas entramos num Rancho de Canoa, onde eram expostos o utilizado na faina da baleia.

Este era o rádio transmissor utilizado pelo vigia, que do alto de um morro, munido de potentes binóculos, anunciava a presença e posição do mamífero.

Passamos por uma das piscinas, que o César não resistiu e entrou.

Na ilha há muitos moinhos de vento. Moiam grãos e a ilha plantava muito trigo. Hoje já não plantam e os moinhos já não moem. A produção hoje está centrada no gado e na pesca. A ilha já teve 12 mil habitantes, hoje tem 4,5 mil. A grande maioria foi para os Estados Unidos, que numa época concedeu green card para os açorianos.

Mais uma piscina natural. Aqui com banhistas a tomar banho de sol.

No Farol da Ponta da Barca, fizemos belas fotos. Na última o ilhote chamado Baleia. Observem como se parece realmente.

E seguimos pedalando e contornando a ilha, num total de 34 km.

Passamos por uma aldeia, toda em pedra, que ruiu no cismo de 80 e foi abandonada. Agora 3 das casas foram recuperadas para casa de verão.

Muitas freguesias, cada uma com sua igreja, singelas e aconchegantes.

Uma  das freguesias, no interior da ilha, chama-se Brasileira.

Subimos um dos 3 picos da ilha. Este contém uma caldeira vulcânica no seu cume, e o acesso se faz por um túnel, feito em pedra,...

no ano de 1953, portanto tem a minha idade.

No interior da caldeira, que tem 1600 metros de diâmetro, um moderno prédio é a recepção da Furna do Enxofre (mesmo nome da que visitei na Terceira).

Dali se desce ...

 
 
 por uma escada toda em pedra, com 185 degraus, construída em 1939.

Esta escada desce pela boca do vulcão e ...

dá acesso para uma grande abóboda de pedra, com um lago ao fundo. Seu espaço daria para abrigar um campo de futebol, e uma água fervendo exala uma fumaça com cheiro de enxofre.

Depois saímos da caldeira e seguimos até a Furna da Maria Encantada,...

que é um túnel natural que também dá acesso para o interior da caldeira.

Seguimos então por uma estrada que contorna o cume do pico, com uma vista magnífica.


onde paramos para mais um lanche.

Lá embaixo o Porto, com nossa casa flutuante. O cansaço já era grande.

Recebemos a visita então do Hubert, um brasileiro de Santos, médico que estudou em Madri, trabalhou no Porto e há uns anos trabalha na Graciosa. O cara mede 2.05 e no Firulete, só sentado.

No dia seguinte, fomos fazer uma visita na Queijadas da Graciosa, uma fábrica artesanal de doces que tem fama em todos os Açores e exporta para alguns países da Europa. Uma delícia! E olha que eu nem sou de doce. Saímos de lá com uma sacola de queijadas e outros quitutes, até para a Renise levar para o Brasil, quando vir a Portugal.

Aproveitamos ainda o dia para refazer algumas costuras na vela genôa e preparar o barco para mais uma travessia.

A tarde, o Hubert e sua mãe, Sueli, que o está visitando, passaram no barco e nos convidaram para ir dar um passeio pela ilha.

Fizemos mais um tour pela ilha, agora de carro, e paramos em alguns lugares que não havíamos conhecido.

Na volta, chegamos com funcho para o chá, um pão feito em forno a lenha, ainda quente, e uma isca, presentes do Hubert.

A noite, fomos para Café Ilhéu, para postar o blog, e recebemos a visita do Hubert, agora com a namorada, Ana, uma graciosa e simpática nativa. O papo entrou na madrugada.
Quando chegamos no barco os dois haviam passado por lá e deixado uns enormes pés de alface, couve, mais uma isca e uma vinho do Alentejo.
Fomos muito bem recebidos em todo os Açores, mas na Graciosa todos foram muito gentis. Ficamos só 4 dias aqui, mas saímos com a sensação de estar deixando bons amigos.
Com pesar estamos deixando o arquipélago, rumo a Portugal. Já tínhamos boas referências sobre a estada nos Açores, mas a beleza das ilhas e a receptividade que encontramos superaram todas as expectativas.
Nossa travessia agora será de 900 milhas, que deverá levar uns 9 a 10 dias.
Estaremos com o Spot ligado e poderão nos acompanhar pelo site: http://share.findmespot.com/shared/faces/viewspots.jsp?glId=0cEfApSehFCxeLqILX6hE7khRi13UTTFp
Desculpem o tamanho da postagem, mas fiquei com pena de cortar ainda mais.
Até o continente então.
Tchau!

 

10 comentários:

  1. Adorei a postagem, e pelo tanto de fotos, não ficou nem um pouco cansativa, pelo contrário... dá vontade de ler mais, de saber mais.
    Guardem bem as queijadinhas, longe dos olhos. Já avisei o André e ele está esperando. Será que chegam?? kkk
    Boa velejada até o continente, onde, certamente, conversaremos pelo skype!
    Bjo,

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  2. Norberto,
    Os feitos por mar até agora realizados têm sido espetaculares,
    mas para quem conhece tua capacidade de navegador não se surpreende. O que causa admiração, mesmo, é constatar a facilidade que estás tendo em nos reportar a riqueza do que estás presenciando. Parece um profissional.
    Parabéns mais uma vez.
    Alberto C.

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  3. Parabens Pai o blog esta muito legal Boa viajem e bons ventos
    Abraço
    Gordo

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  4. Adoramos o blog!!! está muito interessante vamos acompanhar a viajem...a foto na fajã de Santo Cristo naquele paraíso foi mesmo um encontro inesperado!!!
    Parabéns e Beijinhos!!!
    Adriana Guardabassi Faria

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  5. Olá Comandante,
    Show de imagens e informações. A cada post consegues, com muita maestria, nos fazer viajar contigo. Parabéns!
    Bons ventos e que tenham ótimas singraduras até Portugal.
    Te acompanharei pelo Spot.
    Um grande abraço.
    Luiz Cordioli

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  6. Comandante Norb

    Grande relato.Parabéns......
    Continue a fazer blogs grandes,pois teremos mais "colírio"...
    Forte Abraço
    Bons Ventos
    Guego

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  7. Dai capitão e vice...
    parabens pelas fotos e realmente os lugares são lindos.
    sucesso na travessia.
    abraço,
    Rodrigo Mattiello

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  8. A postagem está linnnnda. Boa velejada, Lisboa é logo ali. E eu já estou chegando. Renise

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  9. Hai comandante
    Show...show...show...vão pedalar assim lá na conchinchina!!!...cansei lendo, imagina pedalando...o Guego ia bem nessa pedalada...kkkk, pela informação do spot + uma semana estarão onde saiu Cabral, show de bola, continuamos de olho no firula.
    Grande abraço na dupla
    Betinho Búrigo

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  10. Maravilhoso registro de lugares excepcionalmente belos. Convite para retornar e conhecer outras ilhas.

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