domingo, 7 de novembro de 2010

Vitória a Fpolis - Gran Finale!

O Espírito Santo é o principal estado em pesca de oceano, isso devido a plataforma continental ser mais estreita e pela cadeia de montanhas submersas que formam a Ilha de Trindade e Abrolhos.

No Iate Clube, a principal atividade é a pesca.
Muitas lanchas equipadas "até os dentes", saem para o mar e voltam, em poucas horas, repletas de grandes peixes.
Na véspera da nossa saída o agito era grande. Estava dando muito dourado.
A foto mostra o resultado de uma das lanchas que sairam.

Enquanto isto, preparávamos para mais um tiro longo, até Ilhabela.
Aqui, o César costura uma vela que teve uma pequena avaria.

Pela manhã, deixamos Vitória.
O dia estava magnífico e...

Velejamos num través tranquilo e um mar sereno.

A medida que íamos descendo o frio ia aumentando, nos fazendo puxar pelas roupas que a tanto estavam guardadas.
Este frio ia nos lembrando de casa.
No dia seguinte o céu amanheceu todo encoberto, e com uma cara de viração.
Mudamos os planos. Entramos para Búzios, que estava no nosso través, ancoramos ao abrigo e passamos uma noite tranquila de sono, vendo o temporal passar ao largo.
Na manhã seguinte seguimos para dobrar o Cabo Frio e rumar para Ilhabela, só que com zero de vento.

No caminho, arrumamos um caroneiro.
Uma passarinho, aparentemente um neguinho do bumba, que deve ter sido arrastado pelo temporal para o mar, com ares de muito cansado, adotou o Firulete para se restabelecer.

Passou o dia conosco. Demos água, pão e banana, que comeu sem cerimônia.
Passeou por todo o barco.
Aqui, pousou para foto, no banco do timoneiro.

Deve ter gostado, pois sem ninguém convidar, ficou para o pernoite.
Encantou-se com o espelho, onde achou um parceiro para lhe acalentar a solidão.

Durante a noite, fez turnos conosco, e esteve presente até nas plotagens da carta náutica, na mesa de navegação. Ganhou o apelido de Firula.
Durante a noite passamos pela frente do Rio de Janeiro. O vento ainda zero, e o motor fazendo o trabalho das velas.
Pela manhã o Firula acordou feliz. Estava serelepe e fazendo ameaças de se fazer ao mar, digo ao ar. Até que, ao passarmos perto do morro (quase ilha) de Sepetiba, ele partiu decidido.

Passamos por fora da baía de Angra, onde alguns navios aguardavam para adentrar no canal do porto.
E o vento...nada!
Mas a nebulosidade ía aumentando.

Pegamos mais uma cavala, de uns 3 quilos.
Perfeita para um almoço a 3.

Ao passar por fora de Ilha Grande, não resistimos.
Entramos na praia de Lopes Mendes, onde normalmente tem ondas, mas neste dia, tranquila.
Lá estava um outro veleiro, de Parati, com uma família, ele holandês, ela peruana, e tres filhos brasileiros.

O Rodrigo foi mergulhar, com a intenção de trazer a janta, mas só viu tartarugas.
O César foi nadar e eu fui, com o bote, para a praia para dar uma corrida. Lá encontrei os vizinhos e acabei ficando no papo (regado a cerveja).

Voltamos para o barco, preparamos o almoço e caímos numa sesta profunda.
Isso tudo em plena segunda feira.
Ah! que peso na consciência!

Acordamos no meio da tarde, com o tempo já mudando.
As 16:00 horas, partimos para Ilhabela, num rumo totalmente oeste.
Logo em seguida um aviso de ressaca, pela rádio-vhf Ilhabela, alertando as embarcações para não saírem.
Ficamos apreensivos, mas como este trecho oferece vários pontos de refúgio, seguimos.
A noite transcorreu tranquila, embora negra.
Nada de vento. Nada de onda.
Só o motor a mil, digo 2mil rotações por minuto.

No amanhecer estávamos já adentrando no canal de São Sebastião.
As 8:00 horas já tínhamos a vila de Ilhabela a nossa frente.
Conclusão: De Vitória a Ilhabela, as velas nada fizeram. Foi nosso record de motorar (aproximadamente 50 horas).

Ilhabela é sempre uma parada agradável, apesar dos borrachudos que nos recepcionaram famintos.
Aqui, aproveito para mostrar algumas das belas esculturas, em aço inox, que ficam na orla.

São muitas, e belas.

Enquanto descanso no coqueiro, mostro o os barcos (muitos veleiros) que estão alí ancorados.
Ilhabela, apesar do pouco vento, se diz capital brasileira da vela.

A ressaca não apareceu. Foi alarme falso. Ou foi tão em alto mar que aqui nada houve. Sei lá.
Só sei que a previsão agora nos indica uma jalela com ventos de leste, rodando para nordeste, depois para norte, por 3 dias, e uma nova frente fria para o quarto dia.
É tudo que precisamos para fazermos a última e derradeira perna.
Depos de 24 horas de Ilhabela, soltamos a poita do Pindá Iate Clube, onde fomos muito bem recebidos pelo comodoro Toninho, companheiro no Costa Leste, com o veleiro Pegaoazul...

e partimos rumo Fpolis.

Este já é o caminho de casa.
O Firulete já faz de costas.

Ao fundo, logo na saída do canal de São Sebastião, a ilha de Alcatrazes.
Passamos bem perto. É uma ilha forte, bruta, agreste. Inspira admiração e respeito.

A previsão agora se realiza, e os ventos são favoráveis, e na medida certa.

A paz reina, o vento é moderado e constante...

...e o trabalho não é muito.
O Firulete desliza rápido e confortavelmente.

Batemos agora outro record, o de menor tempo entre Ilhabela e Fpolis, do Firulete.
Foram 53 horas de vela pura e num bordo só.
A tranquilidade só desapareceu quando, com o céu já muito carregado, passando pelas Galés, na frente de Quatro Ilhas/Mariscal, o rádio-vhf novamente anuncia um mau tempo, com ventos de sudoeste com força 7-8.
Já víamos a ilha de Santa Catarina na nossa proa.
Fizemos o resto do percurso com vela e motor, voando entre 7 e 8 nós.
Entramos no canal da baía norte, com o olhar fixo no horizonte.
Íamos ao encontro da frente, mas precisávamos chegar no Iate Clube antes dela.

As 16:00 horas atracamos no pier do Veleiros da Ilha, a casa do Firulete.
Uma hora depois desabou um vendaval e muita chuva, mas fui muito rápido. Só ficou uma chuva fina.
Nossos planos era, no dia seguinte, fazer um mutirão no barco, arrumar os itens que depois de cada navegada sempre aparecem, e deixá-lo limpo, cheiroso e arrumado, para o verão que se aproxima.

O sábado amanheceu limpo. Perfeito para a faxina.
Eu, o Rodrigo (que é muito bom de serviço), o César e o Evoy passamos o dia lambendo o barco.
Mas ele mereceu.
No fim da tarde suspendemos o Firulete, para um repouso merecido na carreta...

...não sem antes passar por um banho tambem no casco.
A cada ano, como fica direto na água, ele é retirado, limpo e repintado com a tinta anti-crustrante, que evita a fixação dos parasitas.

Mesmo com o barco no seco, do seu convés ainda pudemos presenciar um por do sol magnífico.

Bem, companheiros que viajaram (virtualmente) conosco. Fica aqui nossa despedida, o nosso agradecimento aos que postaram, interagindo conosco neste período tão intenso e gratificante que vivenciamos.
A experiência foi única, mas voltaremos para o mar, e aí vocês poderão participar de outros capítulos futuros, muito em breve.
O sentimento da tripulação se resume em:
-Valeu a pena! Faríamos tudo de novo...agora mesmo!
-Soltar as amarras e ir para o mar é como lavar a alma!
-Muito aprendemos, de marinharia, de sobrevivência, e de companheirismo!
-O sentimento é de que somos capazes de filtrar o nosso cotidiano, deletar o que é superfluo, e passar a valorizar o que realmente é essencial.
-Ser feliz é muito fácil, a gente é que complica.
Desculpem a dose de filosofia, mas o convívio com uma natureza tão intensa nos faz fluir e introspectar.
Até não sei, mas até!
Norberto.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Salvador-Vitória

No sábado, finalmente o vento sul rodou para leste.
As 19 horas partimos de Salvador para uma perna longa, 473 milhas (880 Km), até Vitória do Espírito Santo, com previsão de nova frente fria para quarta de manhã.

Já ao amanhecer, que é a hora do peixe...

...garantimos o almoço. Um atum, de uns 3 Kg, com apenas 10 minutos de linha na água.

Tivemos dois dias magníficos, com vento a favor, mar liso, céu limpo, e a noite a lua cheia, nascendo e se pondo no mar.

O barco andando bem, o piloto automático levando, e a tripulação literalmente de pernas para o ar.

Num momento sem vento, o mar fica tão liso que vira espelho do céu.
Na foto, o Cesar na proa, registra este espelhamento sendo cortado pelo andamento do barco.
Uma foto digna de um concurso.

Aliás o que não faltaram foram fotos para concurso.
Observem o nível...




Passamos pelo canal de Abrolhos a noite e isto exigiu muita atenção na navegação, pois são muitos os recifes e baixios de corais.
A partir daqui entramos no território das baleias, onde passamos bem perto de uma mãe e seu filhote.

Na manhã do terceiro dia, o tempo começou a fechar.
Ainda antes do desjejum fisgamos um dos grandes...

Depois de mais de uma hora de peleia, e já sob chuva, embarcamos o almoço para os três próximos dias. Uma cavala de mais de 1 metro e uns 8 Kg.
Daí para frente, o mundo desabou.
Foi muita chuva, mas o vento continuou favorável.
As 18 horas, presenciamos algo raro, entrou uma porranca de sul, sem que o vento, então de norte tivesse aliviado.
Foi um vento engolindo o outro.
A partir daí, terminou a mordomia. Estávamos a 60 milhas apenas de Vitória, mas foram batalhadas palmo a palmo, e com chuvas diluvianas.

Em meia manhã do quarto dia, com o céu já se abrindo, avistamos Vitória.

Passamos ao lado do porto de Tubarão, que opera principalmente com minérios e aço.
La fora, passamos por nada menos que 27 navios, ancorados a espera da operação no porto.
Ja viram um engarrafamento de navios?
Estamos de volta ao Iate Clube de Vitória, novamente na espera de que o vento sul amaine.
Previsão de podermos sair na sexta de manhã, com destino até onde a próxima frente fria nos barrar.
Até!
Norberto.









sábado, 23 de outubro de 2010

Natal-Cabedelo-Recife-Salvador

Bem amigos, começamos a etapa de volta da nossa viagem.
Levamos tres meses subindo o litoral do Brasil e agora pretendemos voltar até Florianópolis em um mes apenas. Isto que dizer, muito mais mar, muito menos terra e muito menos tempo para o blog.

Mas é claro oh chente, que esta pressa é no rítmo do nordeste, não sabe?

Ninguém aqui vai se aperrear não.

Chegamos em Jacaré, um sossegado portinho...

...onde ficam muitos veleiros estrangeiros, empreendendo viagens que tornam a nossa um pequeno passeio.

Tiramos o dia para passear.
As frutas...

...e os frutos da região parecem exóticos, aos nossos olhos.

Em Cabedelo, uma pausa para uma gelada, enquanto esperamos o trem, que nos levará até João Pessoa...

Uma cidade agradável. com seu sítio histórico, ainda bem preservado, mas só agora iniciando investimentos de restauração e recuperação deste patrimônio.

Como sempre, com muitas igrejas, construídas no período de colonização...

...e onde, as da Ordem de São Francisco, são sempre as mais belas.

O por do sol, no portinho de Jacaré é famoso.
Aqui, em um bar onde há um belo pier, todos os dias, no momento do poente, se houve o Bolero de Ravel, executado em sax solo.
Depois a música entra na noite.
Temos o privilégio de estarmos vizinhos, e poder curtir isto do barco.

No dia seguinte, tocamos para Recife, pois o Evoy tem passagem marcada para retornar a Floripa.
Não deve ser fácil voltar ao trabalho depois de experimentar tudo isto.
Mas entendemos. Alguém tem que trabalhar neste país.

A noite, um celebração no Boteco, para despedida do nosso tripulante-sócio do Firulete.

Quando passei por Recife, a 3 semanas atrás, entrei casualmente numa loja de motos, e fui fisgado por esta usada, mas muito nova.
Foi um amor a primeira vista.

Hoje voltei na loja, e ela ainda estava lá, esperando por mim.

E hoje, casualmente é o meu aniversário.
Parece loucura mas...Comprei a moto!

E curti ainda os 2 dias de Recife, andando de moto, revivendo os velhos tempos de motociclista.

Corri todo o Recife Antigo...

...a orla urbana...

...a arquitetura...

...a cidade, cheia de canais e pontes, que lembra Amsterdam...

...e justifica a dominação holandesa no início da colonização, fato que enche de orgulho os Recifenses.

A bordo. a vida e a lida continuam.
Lavar a roupa é uma tarefa permanente, onde cada um se encarrega da sua.
Despachei a moto por uma transportadora e, de Recife partimos para Salvador.
Pela primeira vez, andamos sobre nosso próprio rastro.
Daqui para frente, é o verdadeiro caminho de volta.
Na foto, o Talassa II, mais uma vez fazendo um trecho conosco, e novamente o Rodrigo vai nele, para dar uma força ao Marcelo, que esta navegando solo.
É um tiro longo, de quase 400 milhas (700 Km).

Depois de perdermos dois peixes, um deles no momento de içarmos para o convés, fisgamos um dos grandes. Deu muito trabalho para embarcarmos, pois nossa carretilha estava travando, e estes bixos fazem muita força. É preciso negociar na linha o tempo todo, para não perde-lo.

Depois de algumas horas de labuta, o sashimi, o almoço e a janta estavam garantidos.
Um dourado de 1,12cm e mais de 10 kg.

Foi um dia gratificante, mas nosso andamento foi pequeno...

...a ponto de, faltando 20 milhas para Salvador, as 5:00 da madruga, pegarmos um temporal com vento, chuva e ondas, tudo contra.
Foram 3 horas de pauleira e sem podermos avançar.

Para complicar ainda mais, nosso motor apresentou um problema na refrigeração, e precisávamos ir adicionando água por todo o tempo, para não superaquece-lo.

Ao chegarmos em Salvador ainda chovia muito. O Firulete vira uma grande tenda, onde um grande varal começa a secar tudo o que está molhado. E não é pouco.
Vamos aguardar por aqui, até que uma janela de tempo favorável nos permita continuar para o sul.
Até a próxima postagem.
Norberto.