quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Projeto Volta Atlântico - etapa 1a - De Floripa ao Rio

Finalmente consegui resgatar nosso blog de 2010. Me desculpem os que ficaram aguardando por notícias mas o forte rítmo da viagem até aqui, as dificuldades com o acesso a internet por onde passamos e as barberagens que cometo na relação com esta tecnologia atrasaram a primeira postagem.

Estamos já em Salvador e este é nosso trigésimo dia de viagem.
Depois de dois anos de planejamento para esta empreitada de fazer a Volta Atlântico, depois de tres meses de reforma e preparação do barco, com ele no seco, depois de estruturar o escritório para uma ausência de 12 a 18 meses, estamos navegando novamente.

Confesso que não é fácil fazer-se ao mar, quando tudo que plantamos e construímos está em terra. Deixar mulher, filhos, netos, casa, escritório, amigos, é pesado. Saí com um peso enorme no coração e passei as duas primeiras semanas com uma sensação de estar cometendo um erro.
Depois, fui absorvendo a nova rotina, procurando ficar focado no momento e procurando esquecer aquela angûstia de tirar conclusões ou fazer balanço de vida, afinal não estou pretendendo nenhuma guinada, minha vida foi muito boa até agora e pretendo retoma-la com tudo e todos que me cercaram até então.
A única diferença é que, ao voltar, vou ter experimentado um sonho que não gostaria de abortar. Poderá ser uma bela historia para contar para os netos, poderei passar por dificuldades que não esquecerei jamais, mas com certeza, voltarei com uma boa bagagem de experiência, com vivências muito ricas, com amigos que jamais encontraria, mas também com muitas saudades da mulher, da família e com uma grande vontade de curti-los e, quem sabe, sabendo ser sossegado.
Esta introdução, que fiz toda na primeira pessoa, não reflete o espírito do blog, que pretende ser mais coletivo e representar sentimentos e experiências de toda a tripulação, que aliás vai trocando a cada trecho, mas senti necessidade de expressa-la.

Fizeram parte desta etapa 1 (Floripa-Salvador): Rodrigo, que já me acompanhou nos 4 meses de navegação em 2010, e pretende fazer todo o percurso agora planejado; Augusto, meu filho que me deixou muito feliz por estar participando, apesar de estar apaixonado e o Krebis, seu amigo, que se mostrou um bom companheiro. Tivemos muitos bons momentos e alguns perrengues.

Saímos com chuva. Encarei isto como um bom presságio. Renise (minha mulher) foi sempre muito compeensiva para com este projeto, apesar de ficar tanto tempo sozinha. Vou sempre agradece-la por isso

 As filhas também estavam presentes na despedida.

A tripulação, o pai de Rodrigo e meu filho Jerônimo (querendo partir junto).

A primeira noite foi pesada. Nos revesamos 2 a 2 nos turnos. Mar grande, vento sul com rajadas chegando a 25 nós. Como não tivemos tempo de testar o barco, depois da reforma, preferí fazer um rumo mais pela costa, ao invés de ir direto para Ilha Grande, como planejado.

Depois de 24 horas de uma viagem dura, onde o vento e a chuva não deram trégua, decidimos rumar para o abrigo da Ilha do Bom Abrigo, já no sul do litoral paulista, na altura de Cananéia. Lá chegamos as 23 horas exaustos e caímos na cama. No primeiro dia nem fotos batemos, tal foi a pauleira. O piloto automático não funcionou, exigindo durante as 30 horas o revesamento na pilotagem. Acordamos no abrigo da ilha, junto com mais uns 10 pesqueiros. Até as aves marinhas procuravam o abrigo.

Ao amarrar uma bambona vazia no convés, a deixei cair no mar. Krebis rapidamente se jogou para apanha-la, mas o vento e a corrente eram fortes e acabou se afastando muito. Foi resgatado por um barco pesqueiro que agiu rápido, percebendo que ele não conseguiria voltar.
O dia continuou com chuva e o vento uivava lá fora. Passamos o dia sem coragem para encarar o mar.


O Augusto no primeiro dia, já conseguiu sua marca de estreante, um hematoma na testa por ter dado uma cabeçada na porta do armário.

Ao anoitecer do 2º dia, com um indício de o vento estar reduzindo, resolvemos partir rumo a Ilhabela.
Navegamos por toda a noite e no dia seguinte o céu começava a limpar, mas o vento rodou e agora vinha de leste. Exatamente na cara, e a ondulação era grande de sul.

Mas as coisas começavam a normalizar. O Krebis, que foi armado até os dentes para pescar, começou a experimentar suas iscas.

Já o Gordo mostrou que seria o responsável pelos registros fotográficos.

O Firulete começava a exibir seus panos e o astral a bordo começava a melhorar.

O Krebis teve seu batismo no banho de reboque.

Mas com o vento contra rendíamos pouco. No fim da tarde estávamos passando pela frente de Santos quando decidi mudar os planos e ir para lá. Nunca tinha entrado em Santos mas conhecia a fama do melhor lugar para se resolver problemas náuticos, e alí teríamos a chance de recuperar o nosso quinto tripulante - o piloto automático.

Entramos na barra já a noite, depois de ter passado por mais de 100 navios que aguardavam ao largo para entrar no porto. Ancoramos numa pequena enseada para dormir. Ao amanhecer rumamos para o canal onde haviam marinas e prestadores de serviços.

 Paramos na marina Pier 26, a contrabordo do veleiro Raiatea que passava por reforma e...

com muitos vizinhos de porte. Inclusive o Nanuk, todo em alumínio, que tambem vai para a Refeno.

O dia foi de muito trabalho (como podem ver). Conheci o Dieter, um suiço que trabalha em Santos com eletrônicos. Analisou o piloto e não conseguiu diagnosticar o problema mas tinha um equipamento igual e me emprestou para seguir a viagem, ficando de arrumar o meu para trocarmos via Sedex. Foi uma sorte tão grande que...

comemoramos a noite com uma pizza teleentrega a bordo.

No dia seguinte, cedo fui buscar duas bambonas de diesel para então partirmos.

Na saída, uma foto com o casal do Raiatea, que acabamos fazendo amizade. Estão preparando o barco para irem morar em Angra dos Reis. Ela é arquiteta. O senhor de camisa azul, que trabalhava no Raiatea, é Zé do Mastro, trabalhou na Fast e montou todos os Fast 345, inclusive o Firulete. Nos falou de detalhes construtivos e nos ajudou na vedação da enora (acabameno entre mastro e convés), problema que vinhamos enfrentando com a chuva desde a saída.

As 14 horas saímos de Santos rumo a Ilhabela. Lá chegamos as 2 horas da manhã, tomamos uma poita do Iate Clube e caímos cansados.

Amanhecemos de frente para a bela ilha. Realmente faz jus ao nome e o dia estava perfeito.
Só que estamos dois dias atrasados em relação a nossa agenda. Nosso compromisso é com as passagens dos dois tripulantes que desembarcam em Salvador.

Mesmo assim fomos dar um breve passeio pela vila...

...ums curtidinha na bela marina, que sempre recebe muito bem os navegantes...

e tem uma das melhores infraestruturas do nosso litoral.

No início da tarde partimos com pesar, principalmente porque Gordo e Krebis não conheciam Ilhabela.

Passamos ao lado do Paratii II, barco do Amir Klink, que lá estava ancorado. Um colosso de 100 pés, todo em alumínio.

O dia está perfeito para navegar...

com vento e todo o pano em cima.

No lanche do convés, ninguém mais lembra da pauleira dos primeiros dias.

A Serra do Mar vai se desdobrando por bombordo...

e o dia, ao final, vai trocando de cor rapidamente...

e se encerra num por do sol de cinema.

Nossa previsão era pararmos em Lopes Mendes - Ilha Grande, mas como passamos por lá de madrugada, o andamento estava muito bom, tínhamos uma previsão de frente fria e ainda estávamos atrasados, decidimos tocar direto para o Rio de Janeiro.

No meio da manhã já podíamos perceber a silhueta das suas montanhas.

 Na chegada, fizemos uma aproximação da pedra do Arpoador...

para o Rodrigo tentar arpoar o almoço.

Sem peixe, tocamos para o abrigo da baía de Guanabara, pois o tempo começava a se fechar.

Como sempre acontece nas aproximações de terra, Rodrigo vai para o celular e fala com meio mundo.

Já dentro da baía o céu desabou sobre nós. Entrou a anunciada frente fria, mas já nos aproximávamos do Iate Clube do Rio de Janeiro, na Urca.

Atracamos no pier, para as formalidades de entrada e fomos para uma poita.

Apesar do cansaço, saímos para uma caminhada por Copacabana.

Caminhamos até anoitecer, parando em Ipanema. Tomamos um taxi e fomos encerrar a noite na Lapa, no Bar da Boa.


11 comentários:

  1. Norberto, estou mega feliz de fazer mais esta viagem com vcs no Firulete. Perrengão em pleno começo de viagem, heim? Mas tudo superado como será no que pintar pela frente. Legal conseguir o piloto emprestado... adoro tudo o que rola, Estarei a postos de butuca em cada pernada. Bjão grandão especial pra ti e Rodrigo e que o Gordo e Krebis voltem bem. Quem são os pareceiros na próima perna? Um dia será euzinha. KKKKKKK. Bjo
    Sandra

    ResponderExcluir
  2. Nem me lembrava que tinha me adicionado e postei como anônimo. KKKKKKK Coisas de Sandra Borges, KKKKKKK

    ResponderExcluir
  3. Quem bom ter vocês novamente alegrando nossos dias com essas maravilhosas imagens. Boa viagem....
    Xanda

    ResponderExcluir
  4. Em fim "o Blog". É bem melhor acompanhar assim contemplando as imagens do que só falar no celular. Estou aqui admirando cada trecho da viagem. Bons ventos, bons mares e bons caminho....

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Parabéns meu caro amigo Norberto pela iniciativa e tenham todos uma excelente navegação. As fotografias e os relatos são fantásticos.

      ...estaremos acompanhando.

      Excluir
  5. Galera, apesar de não estar aí (ainda) em corpo, com certeza estou em espírito. Penso em vcs todos os dias, e procuro enviar BOAS ENERGIAS através do MAR.
    Bons ventos marujada!

    ResponderExcluir
  6. Bons ventos rapazes! A galera aqui vai estar acompanhando. Abraços. Marcelo Rocha (Ex)

    ResponderExcluir
  7. E aí, galera? Pelo jeito tá tudo uma maravilha! Boa viagem ! No primeiro trecho já tiveram q gritar "homem ao mar"? E Piloto automático, q mandrião! Mas nāo esqueçam, quem vai ao mar, avia-se em terra. Boa jornada! Abraços. Vitor M.

    ResponderExcluir
  8. Norberto,atraves do Betinho Burigo estou acompanhando esta aventura. Fico feliz por Ti e teus companheiros.Podes crer que serei um elo positivo para que tudo de certo Abraços Beto Barata

    ResponderExcluir
  9. Eduardo. boa viagem aos navegantes estarei acompanhando anonimamente os AMIGOS e torcendo por voces. sempre que possivel mantenham atualizado o blog... baita inveja de vcs..
    eduardojba@hotmail.com

    ResponderExcluir
  10. Norberto, muito legal a tua "introdução"...é assim que me sinto também.
    Agora, já estou acompanhando...começando pelo inicio.

    ResponderExcluir